Regresso às Aulas: reencontros, equilíbrio e a arte de educar em paz
Regresso às Aulas: reencontros, equilíbrio e a arte de educar em paz
Setembro chega como quem abre uma janela depois de um longo verão. O ar muda, as manhãs voltam a ter pressa e as mochilas, ainda com cheiro a novo, alinham-se junto à porta. Não é apenas o calendário que muda — é também o coração das famílias, que se prepara para regressar ao compasso da escola.
O regresso às aulas não se mede apenas em livros e cadernos. Mede-se no brilho dos reencontros com os colegas, no nervosismo miúdo da véspera, na mistura entre entusiasmo e receio. Cada criança leva dentro da mochila invisível as suas emoções, e é papel da família ajudar a que ela não pese em excesso.
A primeira chave é a rotina. Mas não uma rotina rígida, fria e sem espaço para imprevistos — antes uma cadência suave, que dá segurança e ao mesmo tempo deixa respirar. O sono precisa de ser protegido: noites tranquilas, sem ecrãs antes de adormecer, talvez uma história lida em voz baixa. O corpo descansa, a mente repousa, e o dia seguinte nasce mais leve.
Depois, o tempo em família. Mais vale um jantar de vinte minutos com gargalhadas e olhos que se encontram, do que horas lado a lado em que cada um vive preso ao seu ecrã. Pequenos rituais criam grandes memórias: partilhar o melhor e o pior do dia, inventar tradições caseiras, cultivar espaços de conversa. É nesse chão que as crianças aprendem o valor do afeto.
A escola, por sua vez, é um laboratório de vida. Ensina matemática e leitura, mas também ensina a cooperar, a esperar a vez, a lidar com frustrações. O reencontro com os colegas é um mergulho em alegria, mas também um treino de convivência. Cabe-nos ensinar que diferenças não se resolvem com violência, mas com diálogo. Que respeito não é fragilidade, mas força. Que a paz não é ausência de conflito, mas a arte de o resolver com empatia.
As atividades extracurriculares surgem como janelas abertas: música, desporto, arte, ciência. São importantes, sim, mas não podem sufocar. Uma agenda sobrecarregada rouba espaço ao brincar, ao ócio criativo, ao simples prazer de “não fazer nada”. O equilíbrio está em oferecer oportunidades sem transformar a infância numa maratona.
E, inevitavelmente, os ecrãs. Fazem parte da escola, do lazer, do mundo em que vivemos. Mas precisam de limites claros. Um lar que define regras — sem telemóveis nas refeições, sem tablets na cama — mostra que a vida acontece para além do digital. E, sobretudo, os filhos aprendem pelo exemplo. Se os pais estão sempre ligados, de nada servem discursos.
No meio de tantos conselhos, há um segredo silencioso: os pais também precisam de cuidado. Não existem pais perfeitos, apenas pais humanos. Para educar com paciência e presença, é preciso dar-se permissão para descansar, rir, pedir ajuda. Ser bom pai ou boa mãe começa muitas vezes por aceitar que cuidar de si não é egoísmo, é condição para poder cuidar do outro.
O regresso às aulas é, em verdade, um reencontro múltiplo: com os amigos, com a curiosidade, com as rotinas, com a família. É uma oportunidade para ensinar que aprender pode ser leve, que estudar pode conviver com brincar, que disciplina pode andar de mãos dadas com alegria.
Que este setembro seja um convite à serenidade: menos pressa e mais presença, menos cobrança e mais abraço, menos ruído e mais diálogo. Porque, no fundo, educar é isto: ensinar a viver em paz, cultivar alegria nas pequenas coisas e ajudar cada criança a olhar para o futuro com confiança e brilho nos olhos. Por Ana Filipa Silva


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